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O Banco que Fez o Mercado Parar: Os Bastidores do Caso Master

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abr 07, 2025
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SÃO PAULO — O caso do Banco Master escancarou um desconforto antigo do sistema financeiro: mesmo uma instituição média, longe dos holofotes e praticamente desconhecida do público, pode se transformar num vetor de risco sistêmico e mobilizar o alto comando do mercado.

Entre 2019 e 2024, o banco multiplicou por quase trinta vezes sua carteira de crédito, passando de R$1,4 bilhão para mais de R$40 bilhões. Sustentado por uma estratégia agressiva de captação via CDBs de alto rendimento e forte exposição a precatórios, que tem baixa liquidez e alto risco fiscal, o Master até opera com lucros, mas sobre uma fundação de ativos ilíquidos e custo de funding elevado.

A combinação despertou a atenção do Banco Central, do FGC e dos principais players do setor. A partir de 2023, cresceu a pressão de reguladores e do mercado por uma solução: ou o banco se capitalizava, ou seria vendido.

A primeira proposta de aquisição supostamente veio do BTG Pactual, uma oferta de R$1, um valor simbólico, mas com disposição de arcar com o risco e explorar os ativos judiciais do banco, especialmente a carteira de precatórios. Mas foi o BRB (Banco Regional de Brasília) quem formalizou a proposta vencedora onde se propôs pagar até R$2 bilhões por 58,6% do Banco Master, em uma operação condicionada à auditoria e ainda sujeita à aprovação do Banco Central.

O Master, até então discreto, virou protagonista de um enredo que envolve reuniões emergenciais com o BC, divergência entre os grandes bancos privados e articulações políticas em torno de uma operação que pode consumir até 40% do caixa do FGC.

Quem é o Banco Master?

Daniel Vorcaro

O Banco Master não é exatamente novo, mas sua relevância no sistema financeiro é recente. Fundado há mais de cinco décadas como Banco Máxima, a instituição passou por uma reestruturação completa em 2021, quando adotou o novo nome e uma nova estratégia, sob a liderança de Daniel Vorcaro.

A partir daí, o Master passou a operar com foco na captação de varejo, oferecendo CDBs com taxas acima da média de mercado, em alguns casos, bem acima. Em 2024, os ativos totais saltaram de R$36,1 bilhões para mais de R$63 bilhões, um avanço de 74% em doze meses. O lucro líquido acompanhou o ritmo e dobrou no período, de R$532 milhões para R$1,068 bilhão.

Um modelo que parecia funcionar — até parar de funcionar

Todo esse crescimento foi sustentado por uma lógica simples: captar caro e emprestar ainda mais caro. O banco oferecia CDBs com rentabilidades de até 140% do CDI — em um mercado em que bancos grandes remuneravam a 100%, no máximo 110%. Essa diferença de prêmio trouxe uma multidão de investidores pessoa física, principalmente via plataformas digitais, muitos deles atraídos pela chancela do FGC.

Do outro lado do balanço, o banco alocava esses recursos em duas frentes: crédito consignado para servidores públicos, um mercado com margens apertadas, e, principalmente, precatórios. Segundo executivos que acompanharam a operação por dentro, até 2023 quase metade da carteira de crédito do banco estava vinculada a precatórios federais e estaduais, boa parte ainda sem trânsito em julgado ou com pagamento incerto.

Com essa estratégia, o Master conseguiu crescer sem depender de grandes linhas de crédito interbancárias ou funding institucional. Mas criou, em paralelo, uma fragilidade estrutural, os passivos eram curtos, caros e voláteis; os ativos, longos, incertos e ilíquidos.

O lucro anual bilionário de 2024 impressiona, mas o número tem nuances. Parte expressiva do resultado vem da marcação de ativos a valor de face — prática comum, mas que, em casos como os precatórios, pode inflar artificialmente o balanço. O mesmo vale para operações com fundos de direitos creditórios (FIDCs), em que o risco permanece com o originador, mas os ativos são registrados fora do balanço principal.

Quando o risco deixou de ser apenas contábil

Nos bastidores, o Banco Central vinha acompanhando a escalada do risco com crescente preocupação. Ainda em 2023, técnicos da supervisão do BC passaram a monitorar com mais cuidado a liquidez do banco. O FGC, por sua vez, já havia mapeado que uma liquidação forçada do Master exigiria algo entre R$35 bilhões e R$45 bilhões em cobertura — o que drenaria mais de um terço do caixa disponível do fundo, estimado hoje em R$107,8 bilhões.

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